Aécio Neves e Fernando Lira ( D.A. Press) |
Fonte: Folha de S.Paulo - 18/02/2013 - Coluna de Aécio Neves Link para assinantes: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/94384-fernando-lyra.shtml
Fernando Lyra
Aécio Neves
Fernando Lyra foi um dos melhores homens públicos do Brasil contemporâneo.
Conheci-o nos primeiros dias do governo de Tancredo, em Minas, quando ficamos amigos. Testemunhei sua dedicação à causa nacional naquele trecho de história, que nos devolveu a soberania sobre o Estado brasileiro.
Tancredo tinha amigos e correligionários. Mas também alguns poucos correligionários a quem ele dedicava afetuosa amizade. Lyra era um deles. Lembro-me de como gostava da sonora gargalhada de Fernando e como se divertia com as interjeições próprias do sertanejo que ele era, quando uma notícia o espantava. Qualquer que fosse a dificuldade do momento, o seu otimismo intransigente amenizava a conjuntura negativa.
Ele teve papel fundamental no processo político que garantiu a reconquista da democracia no país. Com a derrota da emenda Dante de Oliveira, foi preciso mudar o campo de batalha, para que nos mantivéssemos fiéis à causa da reconstrução democrática.
Lyra dedicou horas a fio em conversas com membros do Colégio Eleitoral, procurando convencê-los de que o Brasil vivia uma nova hora. Enquanto as ruas gritavam o nome de Tancredo, Fernando o sussurrava, nos corredores do Congresso e nos encontros que varavam noites. Assim, foi construindo uma sólida base para que se cumprisse o que ele antevia -o fim da longa noite do regime de exceção e o amanhecer de um novo tempo.
Alguns dias antes da posse incumbiu-me o presidente eleito de convocar os que seriam convidados para compor o ministério para um encontro reservado na Granja do Riacho Fundo, em Brasília. Nunca me esquecerei da grande emoção com que Fernando Lyra recebeu o convite para a pasta da Justiça. Tancredo lhe disse: "Olha, Fernando, o tamanho de sua responsabilidade. Você vai assumir o meu ministério!"
O presidente se referia à circunstância histórica que o levara a assumir, praticamente com a mesma idade de Fernando, o Ministério da Justiça no governo Vargas. Tancredo sabia que não faltavam juristas consagrados para o cargo, mas carregava consigo a plena consciência de que, nas circunstâncias difíceis da transição, precisava ter ao seu lado homens leais ao país, providos de coragem e conscientes da sua responsabilidade histórica.
Com profundo compromisso com o Brasil, Lyra acabou com a censura e emprestou seu talento para aplacar ensaios de crises que poderiam colocar em risco os rumos da novíssima República fundada. Ponderava e defendia os avanços que estavam sendo gestados sem jamais transigir no principal -nos valores que uniram os brasileiros e líderes de diferentes tendências em torno da causa da liberdade.
O Brasil perdeu um dos artífices de sua história.
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras neste espaço
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