'Pais do Real' criam agenda para Aécio
Por Raymundo Costa e Marcos de Moura e Souza | De Brasília e Belo Horizonte/Valor Econômico
Aécio: senador tem sido aconselhado a defender privatizações e não se encolher.
No momento em quem o PT comemora dez anos no poder, o PSDB foi buscar na velha guarda de economistas ligados ao partido, a maioria deles de alguma forma ligados à criação do Plano Real, os nomes para renovar a agenda tucana e dar as bases do discurso econômico da candidatura do senador Aécio Neves (MG) a presidente da República.
Há uma constante nos debates: para voltar a crescer de 5% a 6% ao ano, o país precisa, na concepção dos economistas, acadêmicos e na de Aécio, de um Estado menor e de mais parcerias com a iniciativa privada. Essas parcerias devem se dar principalmente na área de infraestrutura (aeroportos, hidrovias e hidrelétricas).
Praticamente toda a equipe econômica do governo FHC (1995-2002) contribui para o projeto a ser usado na campanha de Aécio, se ele for o candidato do PSDB, como é mais provável. Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan se reuniram com ele ao menos quatro vezes no ano passado, a última durante o almoço no apartamento de Aécio no Rio, no dia 26 de dezembro.
Mas há outras pessoas envolvidas. O ex-senador Tasso Jereissati, presidente do Instituto Teotônio Vilela, é uma delas. Foi dele, aliás, a ideia de fazer em 2011, no Rio, o seminário "A Nova Agenda", após a terceira derrota consecutiva dos tucanos para o PT, nas eleições de 2010. Essa foi a primeira reunião do PSDB, após a saída de FHC, a juntar os chamados "pais do Plano Real". O presidente do ITV também incorporou às discussões a economista Elena Landau.
Num movimento paralelo, o PSDB também levou Bacha e Elena Landau para um debate com as bancadas do PSDB no Congresso. Não se trata de um grupo orgânico, portanto, e nem sempre são os mesmos presentes em cada reunião. Edmar Bacha e Armínio Fraga não quiseram comentar sobre o teor desses encontros com Aécio. A amigos, Armínio explicou que esteve informalmente com o senador. Ele prefere não falar sobre o assunto e nem ter seu nome envolvido. Elena Landau, que está na Tailândia, disse que nunca foi convidada para nenhuma reunião.
A linha mestra nesses encontros pode ser resumida numa frase que Armínio Fraga disse ao ex-presidente Fernando Henrique: em vez de maldita, como afirmou uma centena de vezes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na realidade recebeu uma "herança bendita" do governo FHC. Tanto que não apenas manteve a política econômica do antecessor, como em algumas ocasiões recorreu a políticas ainda mais conservadoras, especialmente na área fiscal.
O problema, segundo afirmou Armínio a FHC, é que essa "herança bendita" está no fim e o PSDB precisa ter uma agenda que, sem esquecer os fundamentos assentados no passado, projete um futuro moderno.
Além dos encontros para tratar de seu discurso econômico, Aécio passou a conversar com frequência, principalmente com Fraga e Bacha para calibrar seus pronunciamentos, artigos e declarações sobre conjuntura e temas pontuais, como as mudanças no setor elétrico. Nos últimos meses, eles passaram a conversar praticamente toda semana, segundo apurou o Valor.
É a primeira vez desde o fim do segundo mandato de Fernando Henrique, em 2002, que três dos principais responsáveis pela condução econômica de seu governo são convocados explicitamente para aconselhar um candidato a presidente. José Serra, que disputou em 2002 e em 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006, evitaram associar suas imagens à do governo então desgastado de FHC. Mas Serra, por exemplo, sempre trocou ideias com integrantes de peso da equipe econômica de FHC, com os quais tinha mais afinidade, caso de Armínio Fraga, por exemplo.
Na elaboração do discurso econômico para Aécio, o trio, segundo um parlamentar próximo ao senador, se debruça atualmente sobre dois pontos: crescimento da economia e inserção brasileira na economia mundial. Segundo a fonte, os economistas trabalham com a meta de pensar medidas que permitam ao país ter um crescimento de 5% a 6% ao ano, aproximando-se assim do ritmo de expansão das grandes economias em desenvolvimento, como o Brasil: Rússia, Índia e China.
Nas palavras de outro tucano, a visão que prevalece nos encontros do grupo é que o modelo de concessões adotado por Dilma Rousseff é muito "muito estatista, muito dos anos 70". A alternativa em gestação passa por concessões e privatizações. "O que eles estão falando é de parcerias mais ousadas, mais afirmativas com o setor privado. A privatização da telefonia celular está aí para mostrar como isso dá certo", disse um aliado de Aécio.
Aécio tem sido aconselhado a defender as privatizações feitas no governo FHC e não se encolher, como fez sobretudo Geraldo Alckmin, candidato em 2006, quando foi acusado de querer vender a Petrobras e o Banco do Brasil.
O grupo do senador e o grupo informal que o ajudam a delinear um discurso econômico batem, por exemplo, no modelo de concessão de aeroportos e nos contratos da Petrobras com petroleiras privadas no pré-sal, dizendo que a União deveria deixar uma fatia maior para os investidores.
Sobre a participação do Brasil no comércio internacional, as críticas que têm sido formuladas pelos economistas e acadêmicos ouvidos por Aécio Neves é que o Brasil precisa abrir-se mais aos mercados e que o modelo de integração em vigor traz resultados pífios.
Os tucanos estão entusiasmados e ativos, mas é pouco provável que o discurso econômico de Aécio esteja nas ruas antes do segundo semestre. No cronograma do PSDB, janeiro e fevereiro serão destinados a assuntos legislativos (eleições para as mesas do Congresso, presidência das comissões), março abril e maio destinados às convenções municipais, estaduais e nacional, respectivamente.
O projeto da atual cúpula do PSDB é eleger Aécio presidente do partido, em maio, antes que ele comece sua peregrinação pelo país. Aécio ainda não respondeu. O presidente do partido, Sérgio Guerra, quer uma definição imediata. O mesmo ocorre com o ex-presidente FHC, que nos últimos dias se tornou o maior propagandista da candidatura do neto de Tancredo Neves, o presidente que morreu antes de tomar posse, em 1985.