Fonte: Folha de S.Paulo Online - 02/07/2012 - 03h00 - Coluna de Aécio Neves
Maioridade do real
Em 1º de julho de 1994, data que ontem completou 18 anos, os brasileiros amanheceram o dia com uma nova moeda: o real. A iniciativa fazia parte de um programa de estabilização econômica, que deu cabo de uma inflação sufocante e de desastrosa duração. Sem congelamento de preços ou confisco da poupança, ainda então de memória recente, o real colocou o país novamente na trilha do desenvolvimento.
Embora tenha se tornado conhecido pelos resultados econômicos de controle da inflação, o Plano Real converteu-se certamente em uma das iniciativas de governo que mais trouxeram benefícios sociais em toda a história do Brasil.
No legado daquele período, há outro ativo de fundamental importância: a confiança. Em torno do Plano Real, fortalecemos as bases políticas que permitiram ao Brasil avançar também no seu sistema democrático. Vieram aquisições relevantes para a defesa da sociedade, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Proer, hoje reconhecidos até mesmo por aqueles que, na época, por conveniência, os combatiam.
Entre as conquistas históricas propiciadas pelos efeitos do real está a universalização do ensino fundamental. Com toda criança na escola, a educação se converteu no primeiro serviço público a cumprir o objetivo republicano de acesso irrestrito por faixa de renda ou região geográfica.
Na saúde pública houve mudança no eixo de atendimento, com privilégio à atenção básica, destinada aos mais pobres, e a colocação em prática dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa Saúde da Família chegou a 2002 com mais de 54 milhões de beneficiados, um salto de 4.750 % em relação a 1994.
Embora o PT reivindique para si o monopólio da defesa dos mais carentes, foi sob o impacto do Plano Real que o Brasil firmou as bases de uma rede de proteção social, composta originalmente pelos programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás, entre outros, todos anteriores à chegada do PT ao poder. Data de 2001 o Cadastro Único para Programas Sociais, e de 2002 o lançamento do Cartão do Cidadão (base do futuro Bolsa Família) pelo então governo do PSDB.
Esses são alguns itens de uma relação de iniciativas que transformaram de verdade a sociedade brasileira. Entre aqueles que se dedicaram com responsabilidade para a implantação do Plano Real merecem o nosso reconhecimento, nesse dia, de forma especial, os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, pela determinação de honrar seu compromisso com o país e criar bases sólidas para o Brasil de hoje. Por amor ao Brasil, enfrentaram pressões e incompreensões, e, com coragem, fizeram o que precisava ser feito, dever supremo de todo governante.
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.
Aécio Neves é senador pelo PSDB-MG. Foi governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG. Escreve às segundas-feiras na página A2 da versão impressa.
Fonte: http://www.dropsmisto.com