Aécio Neves, líder da oposição |
Fonte: Folha de S.Paulo - 25/06/2012 - Coluna de Aécio Neves
(Des)confiança
Na profusão de dados sobre a economia, muitas vezes não se dá a necessária atenção a informações importantes, como as recentes pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e da CNI, que pontuam a estagnação do Brasil e a descrença dos empresários da indústria.
A Sondagem de Investimentos da Indústria, da FVG, realizada em abril e maio, revela que a desconfiança atingiu o seu maior patamar desde 2009, quando a crise econômica e financeira mundial vivia o seu período mais agudo.
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria, medido pela CNI, atingiu o seu menor nível desde dezembro -e caiu em 21 dos 28 setores pesquisados, principalmente nos segmentos de média e alta intensidade tecnológica e de maior valor agregado.
Ainda mais grave é descobrir o que está por trás desses índices. Com ênfase, eles apontam o que o governo finge não ver -que os efeitos da crise mundial chegaram ao país e se intensificam a cada dia. Sinalizam, igualmente, que o pirotécnico conjunto de medidas anunciadas fracassa em seu objetivo de conter a crise e estimular a economia, mesmo no curto prazo.
Explicitam, ainda, que no cenário atual não há espaço para bravatas e nem condescendência com diagnósticos equivocados, como os que tentam atribuir as dificuldades do país a questões conjunturais passageiras, ignorando olimpicamente a sua conformação estrutural.
Irrefutáveis, os números indicam que caminhamos para uma taxa de crescimento do PIB inferior aos pífios 2,7% de 2011. Por que?
Além da crise internacional, falta competência à política econômica em curso, pautada em ações pontuais e paliativas, para garantir competitividade à indústria frente aos seus concorrentes globais.
Também aqui os números são contundentes: dados da CNI, referentes a 2011 e que só se agravaram neste primeiro semestre, mostram que de cada cinco produtos vendidos no Brasil, 20% foram produzidos no exterior, o maior percentual desde 1996; e que 21,7% dos insumos utilizados pela indústria também vieram de fora.
É o resultado da inércia governamental diante de um cenário absolutamente hostil à competitividade da indústria nacional, submetida a uma carga tributária recorde no mundo, a encargos previdenciários superiores à média de países como os EUA, México, Alemanha, França e Reino Unido, entre outros gargalos que penalizam a produção.
Já passou a hora de percebermos que o presente e o futuro são faces indissociáveis da mesma moeda.
O país que seremos é o que estamos construindo. Vencer a crise que se agrava -e não perder outras oportunidades de desenvolvimento- requer reconhecer os problemas e enfrentá-los com realismo e coragem. Aqui e agora.
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.