Querem salvar a Delta via BNDES
SÉRGIO GUERRAUma frase antiga ensina que, na política, para entender de verdade os fatos, é preciso esperar as ondas pararem de bater e analisar a espuma.
O que a espuma do escândalo Cachoeira revela é estarrecedor e ofende a integridade dos brasileiros.
Explico.
Existem na República dois cargos que são os mais importantes na definição de um governo, seja pelo seu caráter simbólico ou pelo que significam na realidade: o do ministro da Justiça e o do presidente do Banco Central. Cabem a esses dois cargos, mais do que a qualquer outro, zelar pela Justiça e pelos interesses maiores do país, manifestados nas decisões econômicas que afetam todos os brasileiros. São, portanto, cargos cujo exercício é indissociável da ética.
É, portanto, com perplexidade que os brasileiros são informados pela imprensa que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomas Bastos, se transformou, nada mais, nada menos, do que em advogado de defesa de Cachoeira pela bagatela, publicada, de 13 milhões de reais.
Não fosse essa aberração suficiente, o país é surpreendido com a revelação de que o ex-presidente do Banco Central, também no governo do PT, será o novo presidente da construtora Delta. E isso, numa operação absolutamente atípica, já que a imprensa revela que a holding que comandará a Delta assumirá seu controle sem fazer nenhum aporte financeiro.
Seria abusar muito da ingenuidade dos brasileiros acreditar que os dois teriam aceitado essas funções, sem antes consultar o governo federal e os líderes do PT, já que as biografias e credenciais no mercado de ambos estão certamente vinculadas às suas antigas funções no governo petista.
Mas se alguém ainda acreditasse - e antes que o governo diga que não tem como interferir na atuação profissional de ninguém -, a pá de cal na boa-fé foi dada com a informação divulgada de que a empresa que vai assumir a construtora Delta tem, na verdade, como maior acionista o BNDES. Em outras palavras, o dinheiro público dos brasileiros está sendo usado para salvar a construtora.
E confirmando a tese de que tudo que é ruim pode piorar, um dos donos da empresa controladora afirma em alto e bom tom que o governo federal foi previamente consultado e apoiou essa transação tapa-buraco porque "não quer que a construtora quebre". E arremata: "Imagina que o doutor Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração da holding J&F] vai fazer um negócio que o governo não quer! 99% da carteira da Delta é com o governo federal, estadual e municipal."
O tabuleiro de xadrez se fecha com a lembrança de que, após contratar José Dirceu como consultor, a Delta teve seus contratos com o governo federal ampliados de forma extraordinária.
A pergunta que se impõe é: quais são os verdadeiros elos que existem entre o PT e Cachoeira, que fazem com que alguns dos principais rostos do governo petista estendam a mão de forma tão urgente ao contraventor e à empresa acusada de manter relações ilícitas com ele? Como pode o governo federal se mobilizar - e mobilizar recursos públicos que tanta falta fazem em outras áreas da vida nacional - para salvar uma empresa acusada de superfaturamento e danos ao erário? Por que tanto interesse em ajudar Cachoeira e a Delta?
O que está se passando diante de nossos olhos e o país ainda não enxergou?
Tudo indica que existe um escândalo ainda maior dentro do escândalo gigantesco que já conhecemos.
SÉRGIO GUERRA
é presidente nacional do PSDB.
O que a espuma do escândalo Cachoeira revela é estarrecedor e ofende a integridade dos brasileiros.
Explico.
Existem na República dois cargos que são os mais importantes na definição de um governo, seja pelo seu caráter simbólico ou pelo que significam na realidade: o do ministro da Justiça e o do presidente do Banco Central. Cabem a esses dois cargos, mais do que a qualquer outro, zelar pela Justiça e pelos interesses maiores do país, manifestados nas decisões econômicas que afetam todos os brasileiros. São, portanto, cargos cujo exercício é indissociável da ética.
É, portanto, com perplexidade que os brasileiros são informados pela imprensa que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomas Bastos, se transformou, nada mais, nada menos, do que em advogado de defesa de Cachoeira pela bagatela, publicada, de 13 milhões de reais.
Não fosse essa aberração suficiente, o país é surpreendido com a revelação de que o ex-presidente do Banco Central, também no governo do PT, será o novo presidente da construtora Delta. E isso, numa operação absolutamente atípica, já que a imprensa revela que a holding que comandará a Delta assumirá seu controle sem fazer nenhum aporte financeiro.
Seria abusar muito da ingenuidade dos brasileiros acreditar que os dois teriam aceitado essas funções, sem antes consultar o governo federal e os líderes do PT, já que as biografias e credenciais no mercado de ambos estão certamente vinculadas às suas antigas funções no governo petista.
Mas se alguém ainda acreditasse - e antes que o governo diga que não tem como interferir na atuação profissional de ninguém -, a pá de cal na boa-fé foi dada com a informação divulgada de que a empresa que vai assumir a construtora Delta tem, na verdade, como maior acionista o BNDES. Em outras palavras, o dinheiro público dos brasileiros está sendo usado para salvar a construtora.
E confirmando a tese de que tudo que é ruim pode piorar, um dos donos da empresa controladora afirma em alto e bom tom que o governo federal foi previamente consultado e apoiou essa transação tapa-buraco porque "não quer que a construtora quebre". E arremata: "Imagina que o doutor Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração da holding J&F] vai fazer um negócio que o governo não quer! 99% da carteira da Delta é com o governo federal, estadual e municipal."
O tabuleiro de xadrez se fecha com a lembrança de que, após contratar José Dirceu como consultor, a Delta teve seus contratos com o governo federal ampliados de forma extraordinária.
A pergunta que se impõe é: quais são os verdadeiros elos que existem entre o PT e Cachoeira, que fazem com que alguns dos principais rostos do governo petista estendam a mão de forma tão urgente ao contraventor e à empresa acusada de manter relações ilícitas com ele? Como pode o governo federal se mobilizar - e mobilizar recursos públicos que tanta falta fazem em outras áreas da vida nacional - para salvar uma empresa acusada de superfaturamento e danos ao erário? Por que tanto interesse em ajudar Cachoeira e a Delta?
O que está se passando diante de nossos olhos e o país ainda não enxergou?
Tudo indica que existe um escândalo ainda maior dentro do escândalo gigantesco que já conhecemos.
SÉRGIO GUERRA
é presidente nacional do PSDB.